Maestro Bastinhas puxou dos seus galões e triunfou no quarto toiro |
Luis Rouxinol arrebatou! |
Um grande par de bandarilhas de Filipe Gonçalves |
Miguel Alvarenga - Passada que parece
estar - e ainda bem - a época dos toiros-amestrados, que João Salgueiro
celebrizou como "nhoc-nhoc's", a temporada de 2012 tem sido fértil em
corridas duras, graças à atitude de algumas empresas, de que se destacam, entre
outras, a do Campo Pequeno, a "Aplaudir" de Bolota e a
"Tauroleve" de Levesinho. Toiros como os de António Silva que ontem
sairam à arena de Setúbal, são toiros que trazem de novo a emoção às praças e
que podem mudar o rumo da Festa - sem dúvida alguma.
Mais curros como estes e muita coisa
ficaria "en su sítio". Os "Silvas" de ontem à noite na
praça "Carlos Relvas" (em corrida que foi transmitida em directo pela
RTP) foram toiros "de verdade", com impressionante trapio
(apresentação), sem quilos excessivos (média de 550), a não permitir
"devaneios" nem "brincadeiras", a pedir contas aos
toureiros e aos forcados, a parar corações nas bancadas. Ao mínimo descuido,
houve valentes "encontrões" nos cavalos (dos três cavaleiros, sem excepção),
houve forcados em apuros e bandarilheiros à beira da colhida. Quando assim é, o
público emociona-se, suspiram-se "ais" na bancada, existe verdade na
Festa - coisa que andava meio arredada há alguns tempos, mercê dos tais
"toiritos de brincar" onde o perigo, existindo, existe certamente em
muito menor dose...
O cartel de ontem estava denominado como
o dos "Reis das Bandarilhas" (pares), sorte que nem sempre foi
desempenhada com o sucesso usual pelos três protagonistas. Silvas são Silvas e
com Silvas não se "brinca" com tanta facilidade...
Joaquim Bastinhas bailou ontem com as
"mais feias", isto é, teve em "sorte" (neste caso, azar),
os dois toiros mais complicados da noite. O primeiro negou-se à luta, procurou
constantemente o refúgio em tábuas e não permitiu ao famoso toureiro o
brilhantismo a que nos habituou ao longo dos anos. Bastinhas esteve apenas
empenhado, fazendo o que pôde. E com um toiro assim, a mais não era obrigado.
Não escutou música e recusou a volta, deixando o forcado (triunfador) na arena
e retirando-se em louvável atitude.
O seu segundo parecia igual, mas teve
melhor comportamento. Bastinhas esteve "por cima", puxou dos seus
galões e aí, sim, teve o triunfo que se esperava. Muita técnica, muita
experiência, a dose habitual de alegria e o público em euforia com o cavaleiro
de Elvas.
Luis Rouxinol chegou e disse: estou
aqui! Como, aliás, acontece sempre. 25 anos depois da alternativa, está no seu
melhor momento. Pode com todos os toiros, triunfa em todos os terrenos, arrasa
e empolga qualquer praça por onde passa. Foi notável, arrojada e plena de
emoção a sua primeira lide. No quinto, o melhor toiro da noite, teve actuação
verdadeiramente emocionante, daquelas que se vivem no momento e depois não se
descrevem. Ganhou merecidamente o troféu em disputa para a "melhor lide a
cavalo".
No contexto geral, Filipe Gonçalves teve
o melhor lote. Podia ter ido mais longe. Não aproveitou em cheio esta grande
oportunidade de se dar a conhecer ao país perante as câmaras televisivas.
Alternou altos e baixos no seu primeiro toiro, alguns toques aparatosos e
alguns momentos menos conseguidos.
No último, subiu a "parada".
Dois bons ferros compridos e sobretudo três curtos de muito boa nota,
terminando com um par depois de ter falhado outro. Viu-se, contudo, um toureiro
com vontade de romper, bem montado.
Esta corrida, organizada pelos
empresários João Pedro Bolota e Abel Correia, tinha o rótulo da Casa
"Ermelinda Freitas" de Pegões, a cuja proprietária brindaram
toureiros e forcados.
A praça registou mais de três quartos de
entrada. Na rua, uma mini-manifestação de pretensos "defensores dos
animais", que não teve qualquer expressão. Na direcção da corrida esteve o
diligente Ricardo Pereira que, como de costume, assumiu a função com aficion e
saber. Numa corrida televisionada, é também decisiva a atitude do director de
corrida para que o "show" televisivo resulte. Ricardo Pereira esteve
à altura.
Uma palavra final para o excelente
desempenho de todos os bandarilheiros de turno, cuja tarefa também não foi
fácil face às dificuldades dos toiros de António Silva. Ricardo Raimundo, Diogo
Malafaia, David Antunes, Josué Salvado, Duarte Alegrete e Cláudio Miguel de parabéns. Como de
parabéns estão os dois campinos da Casa António Silva, João Inácio
"Janica" e Mário Oliveira (na foto ao lado), por duas vezes chamados à arena pelo brilhantismo
- e a audácia - com que recolheram os toiros. Chamada também à arena, com
merecida justificação, a jovem Sofia Silva Lapa, neta do falecido ganadeiro
António Silva, por quem se guardou um minuto de silêncio no início da corrida.
A corrida valeu, sobretudo, pela emoção "posta" pelos toiros!
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com